Chove em Santarém. A vida renova-se na
floresta. E uma chuva presente é sempre mais gostosa de dormir, de ama e de
ouvir. O aconchego da chuva é igual ao do amor que encanta a deusa despida pelo
vento que deixa palavras. Palavras num tempo que se vive e se sente mas não se explica,
que transformam sempre os dramas em luz, a tristeza em celebração e a ansiedade
em tempo de renovação de espíritos. E é pelas palavras que volto a falar de ti.
No rescaldo das insônias desta noite doem-me os olhos as pálpebras insistem em
fechar-se e a cabeça quer tombar no travesseiro. Acabo por fechar os olhos e
entrego-me ao Criador. E sonho. Sonho como serás
tu toda, de pele e braços, o teu peito e os teus lábios. Os teus cabelos soltos
como borboletas e o som do rio a fazer de chão ao meu desejo. Ai como quero
chegar a ti e tocar-te. É de areia o sal dos meus olhos, a insistir na sede que
me devora . Imagino levar os meus dedos aos teus lábios enternecidos e adivinho
quantas são as pétalas no jardim do teu copo que desejo. É então que perdes o
pudor e vens aquecer-te no meu corpo. Ficas sorrindo a brincar-me com o olhar,
sabendo-me nos olhos o que podia dizerem os meus lábios. Soltas-te de forma a
escorrer em gotas de mel sobre o meu ao
mesmo tempo que os teus olhos,
serenos, deixam a tua boca deixar-me um beijo numa lentidão de prazer
sussurrado no entrelaçar ternurento
dos dedos , na volúpia desenfreada dos nossos corpos, alterando a maré da minha
saliva e a ansiedade dos meus dedos. É noite na ilha do amor. As estrelas
brilham lá no alto e, nos teus olhos
continua a ser sempre céu. Os teus lábios aproximam-se dos meus,
inflamando a maciez da pele no caminho da minha saliva. Tremem os meus joelhos,
sinto o abraço das tuas pernas, e eu mergulho em ti, muito devagarinho, a
colher o suco gostoso e açucarado da tua língua. Á como eu adoro o perfume dos
teus cabelos, a maciez dos teus ombros, o rubor do teu rosto, a ternura do teu
corpo depois de fazer amor. No breve intervalo entre um mergulho no rio e o
fresco hálito de uma madrugada, amamo-nos de novo. Sacio lentamente a sede
impaciente dos teus lábios. Então, quedo-me embriagado, e exausto nas areias
brancas e finas da praia, procuro o teu abraço, á espera do teu beijo. Afago o
teu rosto, beijo os teus olhos, e passo as mãos pela tua pele. Há como eu não
queria mais acordar.
sexta-feira, 6 de março de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
As palavras do meu teclado
Olho através das frechas da janela o céu. Tá negro. Está a
chover. Quase consigo cheirar daqui do meu quarto a terra molhada e ouvir os
pingos da chuva baterem violentamente no telhado. São nove e meia da manhã já
tomei o café da manhã e, como habitualmente, vou ler as capas dos jornais portugueses.
Recosto-me confortavelmente e começo a acionar
as teclas do meu notebook.
Apetece-me hoje escrever. Há dias assim. É para mim de há muito uma
sensação prazerosa. Clicar nas teclas e ver as palavras correrem ao longo do
monitor enche-me de frisson e preenche-me a alma. Alivia-me ficar no quarto
vazio, apenas eu e o meu computador a quem eu muitas vezes irritado por as
palavras não saírem corretas recrimino. Respiro fundo e os meus dedos fazem
tocar as teclas e encher de letras o branco de uma página. Hoje o meu estado de
espirito não é dos melhores tanto mais que o enjoo de ontem ainda não me
passou. Algo que comi me fez mal, provocando-me um nó no estomago que hoje
ainda persiste. Quero escrever mas o pensamento leva-me para outras paragens,
para outros tempos. Respiro profundamente, tiro as mãos do teclado, e fixo o
olhar num ponto negro algures no teto do quarto. E por ter feito ontem
aniversário recordo outro de há muito anos atrás. Também chovia. Nesse dia o
meu coração batia excessivamente depressa quando ela me estendeu a mão. Nem
queria acreditar que estava ali. Ela a minha professora de francês sorria-me
com aqueles cabelos de um loiro profundo. Pegou na minha mão e, estremeci. O
meu mundo ia caindo aos bocados nesse momento. Porque me lembraria hoje dos meus sonhos
aquecidos por loucuras que acalentavam na época o meu coração?. Nessa tarde
deixei de ser menino. Foi o meu presente de aniversário. A partir daí podia
seduzir o mundo.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Pelas areias de Carapanari
Vai sendo tempo de regresso, regresso ao mundo da água que
sempre acalma o stress de uma semana do movimento citadino, regresso ao tempo
dos pássaros que á nossa volta cantam hinos de alegria a cada novo dia,
regresso ás manhãs em que respiramos o ar puro do rio, que enlevado pelo nascer
do sol, nos acaricia a face e nos dá os
bons dias, regresso ao passeio na areia da praia e aos beijos que a água serena
e morna nos dá nos pés. É aqui na solidão das palavras, acompanhado pela
luminosidade de um dia de sol, que reflete na água raios de prata, que procuro
tentar reunir, com a alma em chamas, pedaços de uma vida. Aqui, este paraíso de
perfumes raros é sublime para isso. A luz do sol, o calor da noite, o chilrear
dos pássaros, o verde da floresta faz de nós, na imensidão cálida deste local
lindo, um Adamastor. Bem podem vir
tempestades e tufões, bem pode o vento soprar para espalhar as palavras, porque
contra ventos e marés, a força de um desejo de paz que se conquista neste local
é incomensurável. Cada palavra, cada ponto, cada sinal, diz-me na solidão calma
da maresia, que as saudades são momentâneas, que as dúvidas serão cada vez mais certezas e que a
confiança no futuro será inalterada. É altura de deixar para trás gestos
inventados nos sonhos que pintei nas noites de paixão e silêncio. É tempo de
rejubilar pela nova oportunidade que Deus e os homens me reservaram. Vou
vivê-la com paixão e com fé no futuro. Hoje a lua vai de certeza iluminar e embalar
o meu sonho, trazendo-o á praia dos meus sentidos, hoje ela vai estar calma e
sorridente fazendo bailar nas ondas do meu rio de emoções os botos rosas á luz
das estrelas. Hoje o tempo não parará num tempo que quero recordar. Hoje fico
quieto deixando o tempo passar por mim, esperarei a hora em que ele seja de
novo o meu tempo, o tempo de poder sorrir de novo. Em Carapanari volto a olhar
o rio e a floresta e, subitamente, parece rever o barco da nova esperança que
havia ficado encalhado algures num tempo sem tempo. Entro no rio, e uma deusa
despida pelo silêncio do rio vem suavemente me beijar os pés.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Espero um dia poder encontrar-te
Dizem que o coração consegue guardar as tristezas indefinidamente. Não creio. Hoje elas transbordaram do meu peito com violência. Se o peito é aquele sitio onde a alma repousa, se o peito é aquele lugar que sangra de saudade, então ele hoje bate de tristeza. Faz anos que te perdi minha mãe, numa tarde cinzenta. Nas asas de uma borboleta voas-te para lá do paraíso. Nesse dia perdi a noção do tempo. Fixei o olhar no céu á procura do rasto luminoso que de certo marcou a tua viagem. Em vão. Deu-me vontade de chorar, mas os olhos ficaram vazios. Tirei os olhos do céu num derradeiro esforço de vislumbrar o caminho ou o novo lugar para te encontrar. A morte é estúpida é má, porque só leva quem faz falta, e que falta me ficas-te a fazer minha mãe. Quando me recolho nos meus pensamentos relembro-te muitas vezes. Vejo-te á janela a olhar a lua e, continuo a sentir os teus lábios a cantar-me canções de embalar naqueles noites difíceis de insônia. Ai minha mãe como eu adorava as tuas canções. Sinto muitas vezes que andas por aqui a abraçar-me quando me deito ou a aconchegar-me a roupa da cama quando está frio e levares a mão á boca num beijo de despedida quando a luz se apaga. Mãezinha sinto tantas saudades. Sinto saudades do sorriso, do teu olhar. Tu eras a minha estrela do mar que orientava o meu caminho, tu eras o meu sol que me trazia a aurora em cada dia. Já passaram uns anos depois do nosso último encontro, mas à momentos que nos ficam para sempre, que guardamos no segredo e em silêncio. São só nossos, meus e teus. Hoje continuo a acreditar que a tua força, a tua intuição, a tua crença me ensinaram a trilhar os caminhos que fizeram de mim o que hoje sou. Hoje vejo-te sempre a sorrir caminhando numa nuvem branca num céu azul. Mesmo que a vida me leve por muitos caminhos, espero um dia me voltar a cruzar contigo, porque te continuo a amar minha mãe.
A noite inteira já não chega
De ti só quero o cheiro dos lilases
e a sedução das coisas que não dizes
De ti só quero os gestos que não fazes e a tua voz de sombras e matizes
De ti só quero o riso que não ouço quando não digo os versos que compus
De ti só quero a veia do pescoço vampiro que já sou da tua luz
De ti só quero as rosas amarelas que há nos teus olhos cor das ventanias
De ti só quero um sopro nas janelas da casa abandonada dos meus dias
De ti só quero o eco do teu nome e um gosto que não sei de mar e mel
De ti só quero o pão da minha fome mendigo que já sou da tua pele.
ROSA LOBATO FARIA,
De ti só quero os gestos que não fazes e a tua voz de sombras e matizes
De ti só quero o riso que não ouço quando não digo os versos que compus
De ti só quero a veia do pescoço vampiro que já sou da tua luz
De ti só quero as rosas amarelas que há nos teus olhos cor das ventanias
De ti só quero um sopro nas janelas da casa abandonada dos meus dias
De ti só quero o eco do teu nome e um gosto que não sei de mar e mel
De ti só quero o pão da minha fome mendigo que já sou da tua pele.
ROSA LOBATO FARIA,
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Carta ao Papai Noel
Querido Papai Noel.
Batem as horas na noite. Santarém adormeceu. Hora ideal para te escrever mais uma vez. O coração guarda Papai Noel, o que nos escapa das mãos, e o natal é sempre tempo de falarmos um com o outro acerca daquilo que o coração guarda. Como queria nesta hora encontrar aquele conjunto mágico de palavras para te falar do muito que me aflige nestes dias que correm. Falar-te sem reservas. Tu sabes que um coração como o meu, tímido e rebelde, carinhoso e aventureiro, mas ao mesmo tempo rebelde e selvagem, viveu de paixões, teve desenganos e encantamentos, e tantas vezes planou como uma borboleta por cima de um campo de girassóis. Foi muitas vezes um coração simples, carente de afetos que fez dos poemas a seiva com que se alimentava. Foi tantas vezes resistente e outras frágil como o papel. O ano está quase a terminar Papai Noel. É altura para te confessar que fiz algumas borradas em decisões que tomei, que tive das enfrentar e seguir em frente. Não havia alternativa meu amigo. Contudo sinto-me em paz, mais calmo, mas ainda a necessitar da tranquilidade necessária para percorrer o meu caminho. É altura de colocar o sapatinho á chaminé e fazer os pedidos de presentes. Papai Noel me dá de presente a tranquilidade e a força necessárias para o que ainda falta percorrer. Depois um pedido mais simples. Pedir-te para todos os meus amigos, para todos os que amo, para todos aqueles que eu involuntariamente fiz sofrer e, ainda para todos os que ao longo do ano fizeram parte da minha vida, que de alguma forma a preencheram, que o ano de 2015 seja um ano de saúde plena e de alegria constante. Queria fazer mais um pedido. Espalha milhões de rosas, mistura-as com a maresia do meu rio para que o aroma delicioso se espalhe pelas ruas de Santarém, ganhando em cada um de nós a forma de um sorriso. Há ia esquecendo deixa no meu sapatinho uma caixa de Mon Chery tá.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
É Natal
Tive saudades de escrever. E hoje na solidão das palavras e, na estranha claridade que advém da luminosidade da época, resolvi conversar tentando com estas palavras reunir pedaços de uma vida e com elas alimentar o ato de amor em que se transformou a nossa vivência em comum ao longo destes oito anos. Tal como hoje, lembro-me que o natal estava perto. Recordo-me da noite da chegada. Do teu rosto ruborizado e do treme treme das minhas mãos. Relembro o enlaçar dos nossos olhos na fita colorida do sorriso e das nossas mãos unidas. Éramos como dois adolescentes que no vendaval das nossas paixões, num rubor de ternura e com a alma em chamas procuravam no comprimir dos seus corpos não apenas o desejo do nosso enlace mas sobretudo a urgência do despertar de um sonho. Foram momentos de magia E nesse instante mágico, soubemos que no pousar dos teus lábios nos meus a clara madrugada dos nossos sonhos nascera logo ali. Tive saudades de escrever...de conversar...no fundo tive saudades de sussurrar ao coração outros momentos. O Natal é sublime para isso e, a luz do sol, o calor da noite, o chilrear dos pássaros ou a brisa que vem do rio despertaram na minha alma o desejo enorme de te abraçar. Nada mudará. Ontem como hoje as minhas mãos continuam a tremer, porque na imensidão linda deste local de magia jamais esquecerei as juras de amor, a troca de beijos o sentir dos teus carinhos, numa Belém em flor. É Natal, tempo de amor e reafirmação.
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