segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Palavras

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor,de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Nell

domingo, 8 de agosto de 2010

Voltar a escrever é complicado

Voltar a escrever e aqui é complicado. Mas sempre se arranja tempo para ler e escrever. Longe da Pátria são os jornais on-line que nos preenchem o tempo e a saudade. Escrever é da mesma forma a informática que nos leva aos nossos que de longe matam saudades de nós. Portanto hoje depois de voltar a casa com os meus cunhados que gentilmente me deram a oportunidade de conhecer Porto Velho capital da Rondónia no Brasil, sentei-me abri o pc e fui dar uma volta pelos jornais. Neste fim de semana de temperatura amena dei comigo a divagar e por, condescendência do calendário abro o postigo de atenção sobre o meu Portugal-português e as noticias que catapultam as alegrias e as tristezas dos meus conterrâneos. O ar parece tenso. Continua a novela do Freeport, a policia militar procura pistola desaparecida dna GNR de Chaves e, os Procuradores da Républica pare estarem de costas voltadas para o chefe. Aqui no Brasil as eleições dominam os midia. Tal como em Portugal vêm ai as promessas , os comicios e as falinhas mansas que sempre caiem em lugares comuns. As recentes investigações aos crimes terminaram com a indiciação do goleiro do Flamento e de um tal advogado. O mundial de futebol acabou e com ele as cantilenas repetidas sem alma e os prognósticos mais ou menos fantasiosos cairam por terra. Tambem os santos populares deixaram um cheiro a vazio nas noites lisboetas. Em Aveiro o Porto ganhou a super taça de futebol para tristeza dos benfiquistas, mas mesmo ali ao lado ninguem deu conta da violencia doméstica de um casal de imigrantes romenos. Tento encontrar o não dito, a raiz deste mal, deste desconforto que anda á solta e, a sensação que tenho é que nós estamos afogando o medo e as mágoas. Passam pelos nossos olhos as imagens do dia a dia mas sobra uma sensação de agua podre de um não dito que incomoda. Portugal perdeu...o Brasil perdeu...limparam-se as maquilhagens e o eterno palhaço do circo da vida retirou-se para o camarim chorando a glória perdida. Que interessa o resto. Há como é bom sentir a intensidade das pequenas coisas do dia a dia..provar um chopinho na Cervejaria da Gastronomia em Porto Velho, abrir a janela e olhar a chuva e, sentir o cheiro da terra húmida, ou abrir e olhar céu azul e o sol deste Brasil imenso e, apreciar os primeiros raios de um novo dia. Futebol???. Caraca como é bom começar realmente a apreciar a vida.

sábado, 7 de agosto de 2010

Numa manhã de Domingo...


Era domingo...parou de chover. Era como sempre um sonolento domingo. Colocas-te a mão sob o meu pescoço e deste-me um beijo na nuca. Um beijo lento...doce..suspeito, acordei com um arrepio porque achei um beijo suspeito demais. Antes de poder mover-me e descartar a idéia de estar a sonhar de te ver com esses olhos de amendoa reparei que a cama estava vazia. Ainda com o pescoço a doer no sítio onde caiu o beijo, senti que estava de facto a sonhar. Há como era bom que este domingo nunca tivesse nascido e eu o pudesse expulsar do calendário. Tu não estás comingo. Estás longe ...muito longe. A cama, a nossa cama, adormeceu íntima e amanheceu fria. Virei o corpo para o outro lado tentando adivinhar que tu estavas na mesma do meu lado. Chamei-te mais uma vez e esperei ouvir aquela voz que me faz suar-rir-dormir-sonhar, mas nada. Começa a chegar ao meu coração o fogo denso da paixão e eu vejo-te longe...passeando descalça por sobre o sal, o açucar e o sono. è como se tivesses fugido para a rua e deixado um silêncio misterioso no quarto. Eu sei que é uma coisa absurda. A Viagem é minha....o passeio é meu...as ruas sou eu que as piso....mas o silêncio é dos dois. É por isso que acredito que nos vamos amar ainda mais...noutra manhã de Domingo...sem chuva.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

De Santarém a Monte Alegre ...de barco

Quando me debrucei no gradeamento da orla na Praça Tiradentes o meu coração acelerou e a Néia sorriu. Hummmm é ali que vamos viajar?...perguntei. Sim...respondeu ela visivelmente sorridente. O seu sorriso em vez de me acalmar deixou-me intrigado. Era Outono em Portugal...e aqui um sol abrasador a par do medo, fazia o suor encontrar no meu corpo todos os caminhos. Tal como as árvores precisam agarrar-se ás raizes eu preciso de ter os pés bem seguros em terra. Água não é o meu forte. Olhei o rio e olhei o céu. As nuvens armam e desarmam infindáveis afectos no azul celeste . As águas do Tapajoz tal como á seculos abrançam o Amazonas mesmo ali á nossa frente. A azáfama na Praça Tiradentes é enorme e uma multidão procura caminho entre malas, camions e fardos de mercadorias. As águas do rio, essas não se privam de dar vida ás imagens que nelas se reflectem. Fez-se um silêncio duvidoso antes que a Néia me empurra-se por uma estreita tábua que me levaria ao convés do "Principe do Amazonas". Acho que nesse momento o sangue borbulhava nas minhas veias. De mala numa mão e segurando o medo com outra lá subi. - O meu coração fala contigo vento do rio...suspirei . De uma forma abruta o vento calou-se e sentou-se a meu lado. Tuga a viagem vai ser tranquila, eu não vou soprar. Acalmei. Era hora de perguntar á Neia como seria a nossa viagem pois não via bancos para sentar. Pude divisar no seu rosto um leve sorriso e da surpresa se fez luz...as redes...claro só podia. A brisa paulatinamente foi tomando conta do espaço e do tempo...o barco moveu-se, era hora de partir. Lentamente o " Princípe do Amazonas " fez-se ao rio. A um rio repleto de histórias, de lendas , mas um rio em que todos acreditam ser a origem de todas as coisas, o Amazonas. Muitos foram os que se aventuraram rio acima á procura da terra prometida...eu...procurava neste momento apenas o caminho para Monte Alegre. Aos poucos o medo foi desaparecendo, mas acreditem, que este acto de viajar sem colete salva-vidas não é para português que não sabe nadar não. A noite foi caindo, o luar foi abraçando o rio e eu fui abraçando o sono e a Néia que a meu lado velava pelo baloiço da rede. Já o sol rompia a madrugada quando o estridente apito do " Princípe" anunciava um novo dia e dizia ao viajante que Monte Alegre estava mesmo ali á nossa frente. Perdi o medo de andar de barco e ganhei um novo amigo.... o Amazonas